Fonoaudiólogos , assim também como psicólogos , precisam enfrentar cada vez mais uma clínica em que se evidenciam transtornos de linguagem, onde o limite das intervenções de cada um destes profissionais não é apenas uma linha fronteiriça , mas um vasto território .Para transitar com segurança neste complexo contexto , tanto os fonoaudiólogos ,como os psicólogos necessitam não só ter domínio teórico dos referenciais básicos sobre Linguagem e suas alterações , como também precisam ter consciência do seu verdadeiro papel como terapeuta .
E ser terapeuta de linguagem é o que aproxima psicólogos e fonoaudiólogos , entretanto nem todo fonoaudiólogo é terapeuta da linguagem .Mas sendo terapeuta da linguagem não deixa de ser fonoaudiólogo para se tornar psicólogo .
Para se dedicar à terapêutica da Linguagem é indispensável que o fonoaudiólogo repense o seu fazer cotidiano para enfrentar os desafios que se apresentam na Prática Clinica atual , no que diz respeito a Linguagem
Na década de 80 comecei a questionar minha prática em direcionar as terapias de Linguagem e senti necessidade de percorrer novos caminhos e como o primeiro passo desta caminhada foi me debruçar na análise das diversas concepções de Linguagem. Aprofundar o estudo sobre teorias da Linguagem e relacionar as alterações da mesma levantaram muitas incertezas , mas também deixaram uma a certeza : A terapia de Linguagem é o lugar apropriado de entrecruzamento de discursos , estão ancoradas diversas questões .
Passo neste momento a fazer uma tentativa de explicar as inter-relações entre Psicologia , Linguagem e Fonoaudiologia Neste sentido compartilho alguns dos olhares , sobretudo no processo histórico de buscar respostas para a prática clinica , dentro de minha própria construção e formação tanto clinica como teórica .
.Minha proposta inicial foi partir de eixos, que permitissem analisar e aprofundar a discussão entre articulações teóricas e o trabalho terapêutico. Os eixos abordados foram : a diferença dos objeto de estudo da duas ciências e a concepção de Linguagem que norteia o fonoaudiólogo em suas intervenções clinicas .
Em relação ao primeiro eixo é imprescindível ter clareza de que os respectivos espaços profissionais de fonoaudiólogos e psicólogos são determinados pela natureza dos seus objetos. Porém a delimitação destes dois territórios nem sempre é claramente percebida , muitas vezes os fonoaudiólogos se questionam sobre a possibilidade de invasão das respectivas áreas , sem o entendimento suficiente de alguns aspectos dessas imbricações .
Considero que na busca de respostas para o enfrentamento dos desafios na pratica clinica , no que diz respeito as terapias de Linguagem , é indispensável partir da idéia central de que Mente ( (psiquismo ) e Corpo formam uma unidade indivisível , e esta idéia está dada desde antes do inicio da psicanálise.
A palavra é a manifestação do falar verbal, onde acontece a indissolúvel fusão entre significado e som , uma sonoridade que se conserva até mesmo nas palavras escritas , pois precisam de uma voz para serem palavras , ainda que seja uma voz silenciosa .neste sentido as palavras revelam sentido e sentido pode ser entendido como direção .As palavras vão tecendo nexos que formam a Linguagem.
A palavra é uma ferramenta essencial tanto para o psicólogo como para o fonoaudiólogo, ambos utilizam este instrumento em todas as suas terapias , entretanto enquanto o psicólogo usa a fala como instrumento para tratar o paciente , o fonoaudiólogo tem como objetivo tratar a fala do paciente . Dentro deste contexto uma pergunta e se impõe : Um problema da fala pertence ao corpo ou a mente ? É certo que quando há um problema orgânico importante a fala não existe ou ela acontece de forma deficiente , distorcendo a comunicação . Mas também quando existe problemas cognitivos ou emocionais também a comunicação é prejudicada .
Fica evidente, portanto não existir a possibilidade de esquecer a materialidade da palavra , sua articulação e pronuncia , mas também é impossível negar a intima relação da palavra com a mente , pois uma palavra sem sentido. é apenas uma seqüência de som .
Sendo o fonoaudiólogo o profissional responsável pelos distúrbios da comunicação, incluindo audição , fala ,voz e linguagem , quando estiver voltado para a terapêutica da Linguagem necessita dirigir a atenção tanto para o significado , como para o significante , tanto para a materialidade da fala , utilizando técnicas concretas e especificas visando sua produção correta , mas sem esquecer a função principal da palavra , que é a de se dirigir ao outro . E como é através do significante que se estabelece o significado , se torna impossível separar um do outro , assim como não é possível separar corpo e mente. .
A concepção de linguagem é determinante para nortear o fonoaudiólogo em sua prática clinica .Por esta razão o profissional precisa conhecer muito bem as estreitas relações entre Linguagem, língua e Fala , mas paralelamente ter consciência da importância na discriminação entre estes termos.
.Dada a complexidade desta temática , neste trabalho vou me dedicar a tarefa de transmitir, como entendo hoje , Linguagem e a terapêutica da Linguagem ..E sempre que se fala em linguagem se fala do que é fundamental , do que é constitutivo do ser humano .
Como terapeuta em distúrbios da linguagem me foi imprescindível buscar a verdade , perguntando á lingüística , a psicologia , a medicina , a neurofisiologia , a psicanálise para poder pensar o que se passa a uma criança com dificuldades na aquisição e desenvolvimento da linguagem .
A linguagem tem em sua natureza a dualidade , de por um lado conter um código , mas por outro é ela que nos torna humanos e uma face não existe sem a outra .Para nós, terapeutas da linguagem , o código não é apenas uma abstração é um objeto de estudo.E de um estudo muito complexo , que precisamos conhecer em toda sua dimensão .O fonológico, o semântico e o sintagmático são níveis lingüísticos imersos em um sistema de oposições a ser descoberto na escuta de cada criança , para poder analisar como estão sendo realizados.
Na clinica de transtornos de Linguagem aparecem sintomas lingüísticos de diferentes etiologias, alguns em que não nos oferecem duvidas e outros nem tanto .Exemplifico com as disfasias expressivas e compreensivas, nas primeiras encontramos a síndrome fonológica-sintatica e a síndrome deficitária na programação lingüística ..Nas segundas onde a compreensão do discurso mais complexo está diminuída encontramos e associações semânticas tão particulares que adquirem características “ francamente psicóticas “
.Inúmeros exemplos poderiam ser citados , porém depois de muitos anos de me perguntar , frente a cada criança com dificuldades na aquisição e no desenvolvimento de sua linguagem , me coloco no entrecruzamento de discursos e na certeza que a Interdisciplinaridade é que abre questões oferece respostas .
Finalizando posso afirmar também que minha experiência tanto na clinica de linguagem , como de docente de disciplinas relacionadas à Aquisição , patologia , avaliação e terapias de linguagem me levaram a concluir que o principal objetivo das Terapias de linguagem é apoiar o paciente no longa e difícil trajetória de adquirir sua própria fala , ter seus próprios pensamentos , dentro das respectivas possibilidades. Este é o único caminho para alguém ser dono de uma linguagem verdadeira.
Porém este objetivo só pode ser alcançado se o terapeuta da linguagem não destituir o paciente de seu psiquismo , e entender que os sintomas da fala de seu paciente é uma linguagem que necessita ser compreendida e que é através do próprio discurso que o paciente toma consciência de suas dificuldades .
Marlene Canarim Danesi